quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Acordo ortográfico teve "falsos argumentos" diz Mia Couto

O escritor moçambicano Mia Couto disse terem sido usados "falsos" argumentos para introdução do novo Acordo Ortográfico, sobretudo para a literatura, e afirmou sentir-se "ambíguo" em relação às novas regras.




"Tenho posição ambígua porque acho que houve quem estudou o assunto e sabe mais que eu. Houve linguistas que estiveram anos trabalhando sobre isso", disse a jornalistas, a propósito da nova grafia do português na Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP).



"Provavelmente, há algumas áreas em que nós saímos todos beneficiados, como por exemplo, na área do livro escolar, da aprendizagem da língua. O facto de os manuais angolanos, moçambicanos e cabo-verdianos poderem ser feitos no Brasil ou Portugal, indiferentemente. Isso, se calhar, essas são questões práticas que pesam", afirmou.



Mia Couto, cuja obra "O Gato e o Escuro", que narra uma aventura de um gatinho amarelo que se delicia em contrariar os conselhos da mãe, foi recentemente premiada no Brasil, reuniu-se hoje com jornalistas a propósito do galardão.



No Brasil, o escritor apresentou também o seu mais recente romance "Jesusalém", com título alterado para "Antes do Nascer do Mundo".



"Jesusalém", ou "Antes do Nascer do Mundo" conta a história de Silvestre Vitalício, um homem que, abalado pela morte da mulher, Dordalma, se afasta do mundo, com os dois filhos, Mwanito e Ntunzi, e um velho criado ex-militar, e se refugia num lugar remoto, a que dá o nome de Jesusalém e onde aguarda a chegada de Deus, para pedir desculpa aos homens.



Questionado sobre como encara o novo Acordo Ortográfico, Mia Couto assegurou que irá ajustar-se à convenção, até porque não é "um militante contra o acordo", embora se distancie da "falsificação das razões" apresentadas para introdução do pacto.



"Do ponto de vista literário, não acho necessário, acho dispensável, terei dificuldades em escrever da maneira nova e acho que grande parte dos argumentos que foram feitos a favor do acordo são argumentos falsos", disse o escritor moçambicano.



"Muitas vezes se argumenta que este acordo é necessário porque os nossos países (CPLP) viviam distantes e agora a nova ortografia comum vai aproximar-nos. Acho que isto é uma mentira", afirmou Mia Couto, que é igualmente biólogo.



Para o escritor, a distância entre os países deve-se ao facto de existirem "razões de diferentes políticas, da falta de vontade de criar uma proximidade e apostas geoestratégicas diferentes".



"O Brasil tem aquele universo da América Latina, tem a sua posição no mundo, Portugal tem outra, os africanos têm outra, estas são as grandes razões (..), mas vou ter que me ajustar" às novas regras da língua portuguesa, disse.



Moçambique ainda não aderiu ao novo Acordo Ortográfico.

Angop

Caboverdiana morta à facada na estação da Amadora

Uma mulher, de 33 anos, foi assassinada, ontem de manhã, na estação de comboios da Reboleira, Amadora, alegadamente pelo seu ex-marido, de quem teve dois filhos. O suspeito abordou-a, no local de trabalho, e fugiu depois de a ter esfaqueado várias vezes.




"É hoje. Se fores para a Reboleira, vou lá e mato-te". Estas terão sido as palavras ameaçadoras que Manuel O. terá gritado para a a ex-companheira, na manhã de ontem, quando ela saía do Bairro de Santa Filomena, na Amadora, onde vivia, rumo ao seu local de trabalho.



Pouco depois o homem terá cumprido a promessa. Pelas nove horas, ele dirigiu-se à estação de comboios da CP na Reboleira, abordou a ex-companheira, que realizava serviço de limpeza na estação, e desferiu-lhe várias facadas em todo o corpo.



Maria Olinda Fernandes morreu no local, enquanto o suspeito se colocou em fuga. Até ao fecho desta edição, permanecia a monte.

Ontem, as colegas da vítima que prestam serviço de limpeza naquela estação estavam inconsoláveis. "É uma desgraça, ele não nunca aceitou o fim do casamento", diziam, abaladas.



"Ele ameaçou-a logo pela manhã. Eu presenciei, mas ela não ligou. Todos os dias ele a ameaçava e agora aconteceu", lamentava, ontem à tarde, Luísa Lopes, tia da v



ítima, na casa dos pais de Maria Olinda, onde se reuniram vários familiares e amigos consternados e a carpir a dor.



Ao que foi possível apurar, a vítima teria regressado à casa dos progenitores no último mês de Outubro, depois de 15 anos de casamento com Manuel O., do qual teve dois filhos, actualmente com 13 e 15 anos.



"E agora quem vai dar de comer aos meus netos? Ele roubou-lhes a mãe. Os meninos precisam dela e agora o que vai ser deles?", dizia, em tom grave, António Gomes, pai de Maria Olinda.



O progenitor realçou ainda que aquela não foi a primeira vez que o genro tinha sido agressivo com a filha. "Já desde os tempos em que viviam em Cabo Verde que havia problemas. Há dois meses, quando ele discutiu com ela e pegou fogo à própria casa, ela fartou-se e fugiu para a nossa casa. Mas, mesmo assim, ele não a deixou em paz", referiu, lembrando ainda o episódio que motivou a queixa da filha à PSP.



"Um dia, apanhou-a no comboio e não a deixou sair na estação. Prendeu-a até Queluz e depois quis arrastá-la, bateu-lhe, mas ela gritou e as pessoas acudiram-na", disse, revelando ainda que o processo da agressão foi entregue às autoridades.



"A polícia sabia e nada fez. Só quando as coisas acontecem é que vão fazer alguma coisa? Esta situação já não era nova e a polícia devia ter agido e tentado evitar esta situação. Estou muito desgostoso com a justiça neste país", disse aquele imigrante, há mais de 20 anos, em Portugal.

Hilary Clinton quer saber tudo sobre Cabo Verde, segundo documentos divulgados pelo Wikileaks

O primeiro-ministro de Cabo Verde, José Maria Neves, já reagiu ao facto de Cabo Verde constar dos ficheiros secretos divulgados na semana passada pelo site Wikileaks.



Cabo Verde esteve desde o ano passado sob apertada espionagem dos EUA, de acordo com os ficheiros secretos da diplomacia americana divulgados pelo site

Wikileaks.



Segundo José Maria Neves, citado pelo jornal A Semana, "os EUA têm boas informações sobre Cabo Verde". "Até para poderem fazer o seu trabalho e desenvolver as acções de cooperação com os vários países", disse.



José Maria Neves disse que os EUA têm as melhores informações sobre Cabo Verde, independentemente da forma como esses dados foram obtidos. "Se pediram essas informações, tiveram boas informações sobre Cabo Verde", disse domingo aos jornalistas.



O primeiro-ministro de Cabo Verde apoiou também a secretária de Estado norte-americana Hilary Clinton que considerou um "atentado contra a comunidade internacional" a forma como os ficheiros secretos americanos foram ou estão a ser divulgados pelo website dirigido pelo australiano Julian Assange.



Espionagem



O jornal cabo-verdiano, baseado nos documento diplomáticos divulgados pelo Wikileaks, noticiou que Washington mandou agentes e diplomatas seus espionarem a propensão do arquipélago para o terrorismo e o narcotráfico; e, nesse pressuposto, os mesmos deviam elaborar uma base de dados com informações biográficas, contas bancárias, cartão de crédito, viagens efectuadas, horário de trabalho, contactos telefónicos e e-mails de dirigentes e pessoas com ligações a Cabo Verde.



Cabo Verde figura num grupo de oito países da região ocidental de África (com o Chade, Mauritânia, Níger, Burkina-Faso, Gâmbia, Senegal e Mali) onde os EUA lançaram desde o ano passado uma abrangente operação de espionagem, envolvendo tanto os serviços governamentais quanto os dirigentes políticos, militares e da sociedade civil, bem como o sector da economia.



"Na verdade, a investida norte-americana vem desde a administração de George W. Bush, mas as novas directrizes, que incluem Cabo Verde e os restantes sete países da região saheliana, foram comunicadas às embaixadas dos EUA nesses estados oeste-africanos a 16 de Abril de 2009, portanto, já durante a gestão de Barack Obama. Isso aconteceu através da secretária de Estado, Hillary Clinton. Melhor ainda, a ordem foi dada quatro meses antes de Hillary encetar um périplo pelo continente africano, tendo inclusive passado por Cabo Verde com o impacto que se sabe", escreveu o jornal.



Os pedidos da secretária de Estado



O telegrama que Hillary Clinton enviou às embaixadas americanas nos países sahelianos é claro: "O Departamento do Estado está desesperado por informações sobre o Burkina-Faso, Cabo Verde, Chade, Gâmbia, Mali, Mauritânia, Niger e Senegal. Queremos saber tudo acerca de agitações sociais, tráfico de drogas, padrões de governação e detalhes sobre o sistema de telecomuni



cações".



Os documentos da Wikileaks não mostram os resultados da espionagem feita (ou em curso) em Cabo Verde, mas apresenta o que a Casa Branca exigiu: "Os relatórios devem incluir, tanto quanto possível, informações sobre pessoas com ligações à região oeste-africana (Sahel): organismos e cargos; nomes, posições e negócios; números de telefone, celulares e fax; lista de contactos, incluindo números de telefone e lista de contactos de e-mail; cartões de crédito; viagens; horário de trabalho e outras informações biográficas adicionais", lê-se no despacho assinado por Hillary Clinton a que o jornal britânico The Guardian faz menção na sua edição de domingo, 28 de Novembro, na sequência do vazamento da Wikileaks.



O mais importante para a Casa Branca



Segurança, governação, economia e sistemas de telecomunicações foram os quatro eixos principais da espionagem desencadeada pelos serviços de inteligência norte-americana em Cabo Verde.



No capítulo da segurança, Washington insta os seus agentes e diplomatas a recolher, por exemplo, dados detalhados sobre eventuais presenças de grupos terroristas, os seus planos contra os EUA, as capacidades de resposta a ataques terroristas ou políticas de contenção de fundamentalismo islâmico na região.



A ordem assinada por Hillary Clinton era para que os agentes americanos em Cabo Verde averiguassem ainda o funcionamento das Forças Armadas e de Segurança, a possibilidade de cooperação com os EUA, a capacidade dessas forças para integrarem corpos de manutenção de paz. "E, o mais importante, se há ou não condições para, em caso de crise, o Pentágono poder instalar em Cabo Verde uma base de apoio militar", segundo A Semana.



Nesse mesmo documento, a secretária de Estado pede também aos seus diplomatas e agentes que reúnam todas as informações sobre o narcotráfico na região, as ligações com os cartéis sul-americanos e os dados dos principais suspeitos.



Washington demanda ainda informações sobre a percepção que os cabo-verdianos têm do Millenium Challenge Account (MCA) e manda sondar a posição do governo e de cada dirigente, em particular, sobre o apoio de Cabo Verde aos EUA nos fóruns internacionais.



"Portanto, a eventualidade de uma "contrapartida" política ou diplomática não é de todo posta de lado face aos 110 milhões de dólares já disponibilizados a Cabo Verde. Tanto mais que, após o primeiro compacto, está já na forja um segundo compacto em montantes ainda por definir", segundo o jornal cabo-verdiano.



Migrações e telecomunicações



Num dos telegramas, a Casa Branca solicita uma investigação sobre as migrações e os indicadores potenciais de instalação de campos de refugiados no arquipélago, atendendo ao fluxo migratório entre os países da sub-região africana.



A ordem de serviço de Washington termina apelando aos agentes ao serviço da Inteligência americana para informarem sobre o sistema de telecomunicações existente em Cabo Verde, as suas qualidades e vulnerabilidades. E lembra que são fundamentais informações detalhadas sobre as frequências de rádio, sistema de emissão de passaportes e credenciais do governo e a agenda de contactos dos principais líderes civis e militares.

Homem pode ter se curado da Aids com transplante de células-tronco

NOVA YORK - Um transplante de sangue pouco comum pode ter curado um americano da Aids, afirmaram médicos nesta quarta-feira. O homem, que tem cerca de 40 anos e mora em Berlim, recebeu um transplante de sangue feito a partir de células-tronco adultas em 2007 para tratar uma leucemia. O doador tinha uma mutação genética que conferia uma resistência natural ao HIV. Três anos depois do procedimento, os médicos constataram que o paciente não tem sinais do câncer ou da infecção por HIV, segundo um relatório publicado na revista 'Blood'.




- É interessante comprovar que medidas extraordinárias podem curar alguém com o HIV. Porém, o procedimento é muito arriscado para se tornar o tratamento padrão - afirma o médico Michael Saag, da Universidade de Alabama, em Birmingham, nos Estados Unidos, e conselheiro da HIV Medicine Association, instituição formada por médicos especialistas em Aids.



Os transplantes de médula óssea - ou de sangue criado a partir de células-tronco adultas - são usados no tratamento contra o cãncer. O processo envolve a destruição do sistema imunológico do paciente com radiação e medicamentos e a sua substituição a partir das células de um doador compatível. O risco de mortalidade do procedimento é de cerca de 5%.





- Não podemos aplicar a descoberta nos pacientes saudáveis porque o risco é muito alto, principalmente se eles estão respondendo bem aos antirretrovirais.

EUA buscam prova de conspiração contra Julian Assange, criador do WikiLeaks, diz 'New York Times'

WASHINGTON - Promotores federais dos Estados Unidos estão procurando provas de que o fundador do site WikiLeaks, Julian Assange, conspirou com um ex-analista de inteligência do Exército, o qual é suspeito de ter divulgado documentos confidenciais do governo, informa nesta quinta-feira reportagem do "New York Times". Preso no Reino Unido sob acusação de crimes sexuais na Suécia, o responsável pela publicação de milhares de documentos da diplomacia americana poderá ter sua libertação autorizada nesta quinta sob pagamento de fiança caso um tribunal britânico não acolha o recurso sueco contra a medida.




Nos EUA, altos funcionários do Departamento de Justiça estão tentando determinar se Assange encorajou ou até ajudou o soldado Bradley Manning a extrair do sistema de computadores do governo material militar secreto e arquivos do Departamento de Estado, diz o "NYT".



Se esta suposta ação de Assange for comprovada, as autoridades acreditam que ele poderá ser acusado de conspiração no vazamento, e não apenas ser considerado um receptor passivo que depois publicou o material, afirma o jornal americano, citando como fonte pessoas próximas do caso. Um porta-voz do Departamento de Justiça não quis comentar o assunto.