terça-feira, 27 de setembro de 2016

“A paz em Angola ainda é um projecto frágil” - Ntoni-a-Nzinga

A paz no nosso País não pode ser considerada já como um processo consolidado, requer cuidados de toda Siociedade no âmbito da preocupação colectiva sobre o Repensar Angola. A constatação é do Reverendo Daniel Ntoni-a-Nzinga em Página Aberta. Ele faz abordagens mais detalhadas sobre outros processos de paz noutras parte de África, mormente de Moçambique.

*Victor AleixoFonte: Revista Figura e Negocios 

PHD, Pastor da Igreja Evangélica Baptista de Angola, o Reverendo Ntoni a Nzinga foi, durante muito tempo, o rosto visível do COIEPA e nessa qualidade se destacou como uma figura bastante solicitada a emitir opiniões sobre o processo de paz em Angola. Mas sobre a paz em África, Ntoni a Nzinga tem outras experiências, desde a África do Sul, Congo Democrático, Uganda, entre outros, que fazem dele uma pessoa abalizada para falar do processo de pacificação dos povos, sobretudo no nosso continente
Figuras& Negocios- Os moçambicanos estão novamente em conversações para a paz, novamente com a mediação internacional. O caminho é correcto?
Reverendo Daniel Ntoni-a-Nzinga (DNN) - O processo de Moçambique, o primeiro, foi uma lição para a África ter em conta. Eu o acompanhei nos anos 90, foi um processo interessante porque de iniciativa própria dos moçambicanos. O que acontece neste momento é o resultado, como sempre acontece em qualquer situação de conflito difícil, de certas questões que não foram feitas de maneira própria aquando da resolução do conflito como tal. E como africano não hesitarei de dizer que esse é um dos problemas que a maioria dos países africanos têm tido. Sempre pensamos que quando chegamos a um acordo de cessar fogo, que pára com a guerra, sempre pensamos que conseguimos a paz; não olhamos muito para outros aspectos do próprio conflito político, da questão da identidade nacional. Não sei se nota que a Renamo tenta acantonar-se em áreas específicas para justificar o que está a fazer e que se refere à própria identidade nacional.
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Ntoni-a-Nzinga

Acho que o trabalho de se aceitar o problema real foi bem feito e fez-se um grande esforço nas negociações de Roma, mas essa parte da integração da nação, para se criar realmente uma nação, foi um pouco negligenciada no processo, seja antes e muito mais depois. E com o andar do tempo as populações vão se sentindo um pouco marginalizadas, algumas, não todas, certas áreas isolam-se e é isso que se está a manifestar agora, com áreas específicas onde existe descontentamento expresso.

Vou dar-lhes um exemplo do bom trabalho que foi feito na altura, com o apoio das igrejas. Foi o trabalho de educação para a paz, ou seja, preparar as vítimas directas-chamo vítimas directas aqueles que foram obrigados a abandonar, por razões diversas, as suas aldeias. Tenho um caso que nunca vou esquecer em toda minha vida: durante a preparação do que se estava a negociar o fim do conflito, líderes das igrejas foram à área da Matalla, no Zimbabwe, sentar com os refugiados moçambicanos e dar essa educação para a paz. Achei muito interessante porque as pessoas dividiram-se, uns a acompanhar as negociações em Roma, outros a discutir com a liderança política e outros a trabalhar com as populações para preparar o regresso. E aí houve um caso que me marcou: um jovem de 13 anos que se levantou durante a assembleia, e perguntou: "vocês estão a dizer que tenho de voltar à minha aldeia e ver o fulano que matou o meu pai?" Isso tocou-nos a todos.
F&N - Esse é o problema das guerras fratricidas, aquí em África.
DNN - Exactamente! Mas Moçambique com aquela acção deu-nos, a nós como africanos, exemplos de preparação das populações para a paz que nós em Angola não fomos capazes de fazer, como recolher as armas e ajudar na transformação das mentes, mas creio que o trabalho não foi muito expansivo para abranger a todos. Um processo inclusivo, no sentido mesmo de tratar os assuntos a nível político, não foi bem feito e o que se vive agora são as consequências dessa falha.
 
F&N - E como enquadrar agora a reclamação da sociedade civil que quer ser parte activa no processo apenas confinado ao governo e à Renamo, numa altura que em Moçambique já se defende soluções drásticas contra os fazedores da guerra?
DNN - Eu não partilho da opinião de que é preciso, desde logo eliminar fisicamente uma das partes do conflito. O aspecto que está a ser colocado é muito fundamental em qualquer processo de paz. Aqui em Angola nós tivemos um momento, quando as conversações de Lusaka começaram, em que sugerimos que também deveriam ir às conversações aqueles que não eram militarmente envolvidos no conflito mas que têm uma opinião. E qual foi a resposta que recebemos? Faz a paz quem fez a guerra! Essa é a abordagem não muito boa, e no caso de Moçambique é esse aspecto quando digo de elementos que não foram tratados. As vítimas do conflito armado não significa que não tenham opinião sobre o que deve ser a situação no futuro. E em Moçambique trabalhei com todas as partes envolvidas no conflito, inclusive a liderança da Renamo e entendo bem as posições que cada lado assumiu. Espero que em África continuemos a tirar ilações desses factos vividos e que fique bem claro que paz como paz não é possível sem uma verdadeira Paz quando apenas aqueles que tiveram armas ou com armas na mão estão a negociar, entender-se porque em ambas as partes há sempre abusos. Há vítimas da violência, vítimas do conflito militar, e, por outro lado, não pode haver conflito militar sem conflito político. Então, resolver a questão do conflito militar sem tratar as questões políticas que estão na origem e as consequências, torna-se um problema. As pessoas ficam caladas, não dizem nada mas não estão em paz porque as memórias vão continuar a vir de um momento para o outro. Por isso, o não envolver aqueles que eram, de uma maneira ou de outra, vítimas, alguns directa ou indirecta, do conflito, não envolvê-los no debate de como fazer com que o conflito não volte, eliminar a recorrência à violência ou para se impor sobre os outros, isto só acontece quando os actores directos, passivos e activos se encontrem. E no caso de Moçambique, esse é um dos factores.

O outro aspecto que quero colocar é, mesmo a questão do incumprimento por parte dos actores, de certos acordos a que chegaram. Hoje ver a Renamo a tomar posições que toma é certamente porque houve frustrações da parte deles quanto ao cumprimento cabal do que foi acordado. Também sabemos que para além da Renamo, os actores das próprias estruturas que já existiam nem sempre têm confiança e deixam a Renamo atacar quando quer atacar!
 
F&N - Isso não é consequência de todos quererem ser poder atendendo à má distribuição das riquezas nacionais?
DNN - Concerteza! Mas o problema maior é que nós sabemos como a Renamo surgiu mas sabemos exactamente que há gente que durante a luta de libertação não estava directamente envolvida na luta armada mas isso não significa que não pensava ser independente. E, então, no final do conflito era necessário que eles pudessem sentar para chegar a um acordo comum, e eu duvido que isso tenha acontecido. Aliás, quando mencionou a questão do convite da comunidade Internacional para mediar as conversações, esse é, também, o problema, de sempre se recorrer aos "internacionalistas" e muitas vezes sem criar a confiança necessária entre nós nacionais, localmente, e isso faz com que as resoluções sejam precipitadas. Aconteceu no caso de Angola várias vezes. Vi em Lusaka onde certas decisões tinham de ser tomadas porque os que financiavam as negociações precipitavam as decisões. Essa não é a maneira de negociar verdadeiramente um processo de Paz, no meu entender. Moçambique passou também por essas lacunas.

F&N - Mas a África consegue fugir desse colete de força das decisões Impostas pelo Ocidente e os EUA?
DNN - Conseguir, pode-se mas com certa prudência. Não aceitar completamente mas com certa prudência. No caso do Acordo de Luena, para o caso de Angola, o que achei interessante, entre outras considerações, foi o de os angolanos sentarem e dizerem "vamos fazer alguma coisa". Sabe o que sucedeu? muita pressão, o Ocidente a tentar frustrar o dialogo directo entre os angolanos, mas vingou-se. Essa determinação é boa e tem de ser respeitada. Os termos do memorando do Luena não foram ditados pelo Ocidente nem pelo Oriente que ainda estava a tentar sobreviver. Houve uma certa força Interna que actuou.

Não vou tomar como exemplo a África do Sul, nesse caso da resolução de conflitos porque não chegaram a esse tipo de conflito militar que nós tivemos, não se pode fazer essa comparação, porque o conflito militar na África do Sul aquando da luta, contra o apartheid, não chegou ao nivel, por exemplo, de Moçambique entre o governo e a Renamo, mas o facto de se ter reconhecido e fundamentalmente de se chegar ao consenso de "que temos de trabalhar para uma situação nova e ela tem de ser de nossa responsabilidade", foi muito bom e acho que é assim que deve ser em todos os momentos, como africanos, tratarmos dos nossos assuntos.

F&N - A resolução do conflito de Angola é referencial para inspirar outros conflitos que ainda perduram em África?
DNN - Essa questão do Luena foi um facto importante para os povos de África tomarem boa nota mas há muitas lições de como os angolanos conseguiram a Paz. Onde fizemos bem, devemos tomar a sério, onde falhamos, também as falhas devem servir de lições.

F&N-Houve muitas falhas?
DNN - Houve sim!

F&N - Como, por exemplo?
DNN - Como já falei, em Bicesse foi importante os que estavam militarmente em conflito-que eu os chamo os actores activos do conflito militar, que fizeram tudo, claro com a pressão dos EUA e da Rússia. Conseguiu-se alguma coisa mas um dos erros para mim, e no caso de Bicesse, por exemplo, é a pressão ter sido tão forte precisamente daqueles que nos apoiaram quando estavamos em conflito militar, os EUA e a Rússia. A pressão deles determinou o resultado que depois colocou-nos numa situação mais difícil. Quer dizer, não se deve apenas olhar na questão da realização de eleições, e ambas as partes estavam debaixo dessa pressão. Portugal entrou, são os três actores mas também são eles que estiveram atras do conflito militar e colocou-nos numa situação complicada e que depois vivemos. Essa foi uma situação negativa que no futuro, numa situação de conflito, não importa onde, gostaria de recomendar que se evite.

Fico contente em saber que o conceito de Paz, por parte da comunidade Internacional, tem estado a ser revisado porque como actuavam, não era o melhor para se ter em conta, porque se preocupam apenas com a questão da assinatura do cessar-fogo.
Já falamos do caso de Moçambique, o nosso é a mesma coisa. Essa tese de que só faz a Paz quem fez a guerra é incorrecta. Aqueles envolvidos no conflito armado de forma directa têm o papel de ajudar no fim do conflito mas aqueles que não estão envolvidos no conflito armado é importante que no momento em que se vai negociar como vamos viver sem conflito armado sejam envolvidos, porque eles de uma maneira ou de outra têm algo a dizer sobre o futuro comum. Nós em África temos muitos casos assim. Essa maneira de se resolver o conflito não é positiva, prolonga-se. E volto a dizer que no caso de Angola, em 1999, quando publicamos o manifesto de Paz, diziamos que era importante fazer-se a diferença entre conflito militar e conflito nacional. O conflito militar está entre as duas forças armadas enquanto que o conflito nacional é maior porque é a causa real do conflito militar. Quer dizer, quando falamos no conflito militar que terminamos, descuramos o conflito nacional que não foi tratado.

F&N - Está a querer dizer que não temos ainda a Paz definitiva em Angola?
DNN - O calar das armas não é Paz, e nunca será. Um dos principais princípios não é o fim do conflito armado mas é, mesmo, sentar e estabelecer princípios consensuais de convivência.

F&N - Pessoa experimentada em negociações para a Paz, qual é a receita para que os angolanos conquistem a verdadeira Paz
DNN - Eu continuo a acreditar que precisamos de ter coragem para repensarmos Angola. Quando falo de repensarmos Angola estou a dizer que é importante que, na visão básica da Angola que queremos ter, todos participem e possam colocar o seu pensamento. Por isso, em 2004, quando o COIEPA apresentou a sua posição, e até apresentamos ao Presidente da República sublinhavamos que seria bom que a Constituição,-na altura falava-se da aprovação de uma Constituição para Angola,-que ela seja o resultado de um debate real que nunca tivemos até aqui. Em 1975 o MPLA conseguiu "tomar" o poder e colocou aquilo que pensava que a gente deveria seguir, e tentou-se sabendo-se quais foram os resultados, mas o facto de muitos não terem participado, não conseguimos envolver todos. Chamamos a Paz como resultado de uma vitória de uns contra os outros, mas cedo ou tarde a situação é capaz de virar, e já vimos isso em vários pontos de África. Se realmente queremos uma Paz real precisamos que todos se sintam inseridos e as contradições em termos de pensamento, as diferenças, sejam colocadas na mesa para um verdadeiro debate. Nós somos africanos, somos reconhecidos como povos de diálogo, os nossos antepassados ficavam na aldeia a discutirem até chegarem a um acordo sobre o que deveriam fazer, e nós podemos chegar a esse ponto. 
F&N - E não tem sido feito trabalho nesse sentido?
DNN - Muito pouco!

F&N - O senhor transmite essa preocupação aos políticos e como a sua mensagem tem sido recebida?
DNN - O problema é que a política angolana continua um pouco mais sectarista porque, por exemplo, se não for por via de um partido político, a sua contribuição não é tida como uma opinião válida. O que chamamos de Sociedade civil deixou de ser uma Sociedade civil com autonomia para se exprimir. Eu, por exemplo, fiquei muito surpreso por, de um momento para o outro, começar a ser solicitado a falar para a imprensa. Há quatro anos praticamente passei a ser ignorado!

F&N - Porquê esse seu desaparecimento na media?
DNN - Eu não sei, não desapareci voluntariamente. Depois de oito anos à frente do COIEPA, decidi que tinha chegado o meu limite e saí, fui para a minha casa e estou a dar aulas na universidade da minha Igreja preparando pessoas para o futuro. Portanto, não fugi, simplesmente vi que as pessoas achavam que estamos numa nova fase, a visão é diferente e por isso fiquei no meu canto.
 
F&N - Mas qual é a visão das igrejas, no seu conjunto, sobre a situação actual de Angola?
DNN - A visão geral é que a maioria das igrejas pensa que estamos em Paz mas eu tenho dito até hoje que ainda não chegamos na verdadeira Paz. Tranquilidade no país temos mas Paz como tal não, porque não fizemos ainda o que devemos e precisamos de fazer, que é de acordar como angolanos, como povo. É muito fácil dizer que somos um Povo. Queremos ser um Povo mas continuamos a ser vários povos e nunca houve um verdadeiro entendimento.
Em 2008 recebi uma carta da FLEC a pedir a minha intermediação no diálogo com o governo, isso já depois da assinatura do entendimento do Namibe. Eu não fui ao Namibe embora estivesse prevista a presença do COIEPA para a assinatura dos acordos como testemunha e observador na aplicação das medidas acordadas. Eu coloquei perguntas aos membros do governo: o acordo é assinado entre o governo angolano e o Forum Cabindês para o Diálogo. Quem é esse Forum? O acordo é assinado em 2 de Agosto, baniu-se antes a Associação Mpalabanda. Então, perguntei ao governo: como vão assinar um acordo com o Fórum Cabindês para o Diálogo se a FLEC retirou-se e a Mpalapanda, que fez tudo para a reconciliação da família Cabindense, foi banida? Como vamos ser observadores de um acordo assinado se em nenhum momento ambas as partes falaram connosco sobre os problemas discutidos, não acompanhamos, não conhecemos o conteúdo do acordo, recebi o texto 24 horas antes da sua assinatura?

Esses elementos todos para mim indicam claramente que o interesse que temos para a Paz parece real mas as acções e as formas como queremos alcançar a Paz não são reais. Já disse e repito que Cabinda é um dos assuntos da agenda da Paz não concluída, quer queiramos quer não.

Quando falo em repensarmos Angola, esse é um dos pontos que temos de ter em conta, porque a Angola que temos foi criada pelo colonialismo, não foi criada por nós e não existe nenhum acordo ou entendimento comum da Angola que queremos ter depois do colonialismo.
 
F&N - Então foi por essas suas posições que o COIEPA praticamente desapareceu?
DNN - Pode ser, sim senhor!
Deixei o COIEPA em 31 de Dezembro de 2008, anunciei a minha saida no dia 16 de Setembro de 2008 porque o meu mandato era de dois anos.
F&N - Falou de uma forma sectarista de pensar política. Isso é consequência de falta de liderança política para proporcionar diálogos abrangentes?
DNN - Eu não dizia falta de liderança mas sim de visão comum. As lideranças não são tão más, na minha maneira de ver, simplesmente as circunstâncias em que se trabalha, o contexto, nem sempre os permite ver o outro lado do problema. Por outro lado, o demorar no conflito-e não estou a falar apenas no conflito militar-também criou limitações neles porque a sobrevivência partidária tornou-se mais importante que a sobrevivência da nação. Procura-se garantir que a nossa formação política mantenha-se na posição que deve estar do que colocá-la ao serviço da nação que queremos que seja. São para mim as limitações que temos de ultrapassar, e até aqui pouco se fez nessa direcção. É a situação grave que temos!

F&N - Não é isso consequência da mercantilização da política?
DNN - Aí está o problema, e a questão de repensarmos Angola é exactamente nesse sentido, porque estou a dizer que as formações políticas devem ser espaços onde a cidadania activa se engage de forma organizada na acção política do País. O facto de você estar nesse partido político ou naquele, o objectivo maior deve ser a Nação, o País.São quartos da mesma Casa, não há quartos mais importantes que a casa porque se essa casa cair você não vai viver e não vai ter mais interesse. E essa é a lógica que até aqui o País está a seguir, e temos que mudar se quisermos que ele sobreviva.
 
F&N - Com o processo de eleições regulares não se elimina os quartos estanques e fica evidente o pensamento de um só País?
DNN - Não! Tem de se fazer algo mais, e isso depende dos líderes actuais, desde que estejam realmente interessados. Em primeiro lugar, será que aceitam como uma das vias que deve permitir a construção de uma Paz real?
F&N - Acredita que sim?
DNN - Eu estou a perguntar se eles, os líderes, estão nesse caminho e o que digo é que podemos ainda fazer alguma coisa. As eleições de 2017 devem permitir que haja um escrutínio da situação que estamos a passar, da experiência que adquirimos. Se não for assim, significa que estaremos de novo estagnados no futuro e os próximos cinco anos poderão ser melhores ou, então, muito maus. Porque até aqui as lideranças que temos, de qualquer partido político, não consideram prioritário a prestação de contas à nação que eles dizem estar a servir, porque nação para eles são os seus partidos. Por isso é que ouço com regularidade que temos de tirar fulano ou sicrano e a situação vai mudar. Eu duvido!

F&N - Acredito que já deverá ter estado com o Presidente da República algumas vezes. Disse-o isso?
DNN - Não, nunca tivemos esse tipo de debates. Só estive com ele em 2004 quando falamos das eleições, da Constituição; e às minhas perguntas, ele respondeu-me com alguns exemplos de outros países africanos, como de Moçambique. Foi nessa altura que eu o disse: "senhor Presidente, é bom que a primeira Constituição que vamos ter no País seja a expressão que os angolanos de todas as tendências querem, que cada um se possa identificar com ela?? E essa continua a ser a minha posição.

F&N - O Presidente da República decidiu abandonar a política activa em 2018. Uns defendem que ainda é cedo porque não se preparou convenientemente a sua saída.Acha que a sua saída, agora, pode causar transtornos à pacificação de Angola?
DNN - O grande problema ou receio que tenho é de ele passar a ser instrumento daqueles que gostariam de ver a desestabilização de Angola. Como africano, na cultura Congo onde nasci, diz-se o seguinte: "Quando você faz filhos, faça tudo para que eles sejam maduros e poderem gerir os seus assuntos, e diz também que enquanto estiveres em vida, eles devem demonstrar capacidades que têm de fazer. Por isso, quando ouvi a sua intervenção a anunciar que se retiraria em 2018 da política activa, perguntei para os meus botões: então, se o congresso, que deveria ter lugar em 2015 acordou-se para realizar em 2016 para que se adeque o processo eleitoral do País com o processo eleitoral do Partido, porquê que ele diz que só vai sair em 2018? O que tem na mente? A filosofia Congo me diz que na boca do Chefe não podem sair duas palavras contraditórias ao mesmo tempo. De manhã o Presidente da República e do Partido no poder anuncia a sua saída e, no final do dia, no final da reunião do seu Partido, ele é apresentado como candidato! Aqui há uma situação que não vai ser boa se não for bem gerida, e espero que até 2018 seja gerida da melhor maneira possível.

Não acho que os que estão a aconselhar o Presidente Eduardo dos Santos estejam realmente a dar um conselho e cuidar dele como pessoa.Ser Chefe de Estado em qualquer Pais do Mundo é difícil, sobretudo em África e num País em guerra. Pensar que tem de se esgotar tudo não é uma boa ideia, não é a melhor solução para uma nação.

No caso de Angola, estamos a criar um futuro que não é muito louvável nem seguro. Ainda falar de Paz é pior porque não é o Presidente que garante a Paz. A Paz tem de ser obra de cada angolano, tem princípios fundamentais. Se eu fazer algo contra você não vou estar em Paz nem consigo nem na minha própria vida. É isso que temos vivido na Sociedade. Gostaria que em Angola se passasse um momento onde possamos transmitir de geração para geração não só a experiência, os resultados do que conseguimos mas as próprias experiências que adquirimos. Por isso não gostaria, um dia, de ver o Presidente José Eduardo dos Santos ser empurrado de um lado para o outro simplesmente porque tentou satisfazer as ambições de alguns de nós.
F&N - Aceitaria um cargo de conselheiro do Presidente da República?
DNN - Se o convite for de decisão dele, eu não tenho problemas em aceitar. Para mim, quando falo de nação, são os povos de Angola. O que me interessa é ver Angola com um futuro melhor e podermos criar estabilidade nesse País se trabalharmos seriamente. E nessa linha, eu estou pronto.

The New York Times apoia Hillary Clinton

Em eleições anteriores, o jornal norte-americano apoiou sempre um dos candidatos à Casa Branca. Entre eles estiveram Barack Obama, John Kerry, Al Gore e Bill Clinton. Desta vez optaram pela mulher que está na corrida: Hillary Clinton. E explicam porquê num editorial publicado no sábado, na edição online do jornal. A versão em papel do jornal vai para as bancas na segunda-feira, dia do primeiro debate televisivo que vai pôr frente-a-frente Hillary Clinton e Donald Trump.

“O nosso apoio está alicerçado no respeito pelo seu intelecto, experiência, firmeza e coragem de uma carreira de um serviço público quase contínuo, feito muitas vezes como primeira ou única mulher na arena”, pode ler-se no editorial do The New York Times.

© Fornecido por GLOBAL NOTÍCIAS, Publicações, S.A. Fotografia de Carlos Barria/Reuters

No que toca a Donald Trump, o jornal refere-o como “o pior candidato que alguma vez um grande partido americano nomeou, na história moderna da América” e promete, nos próximos tempos, explicar porque defende essa opinião.
No entanto, o mesmo jornal sublinha que não quer que os norte-americanos optem por votar em Hillary Clinton apenas para não votarem em Trump, mas sim porque consideram que a candidata será capaz de enfrentar e resolver os maiores problemas nacionais e mundiais.
“Num ano eleitoral normal, estaríamos a comparar os dois candidatos presidenciais, lado a lado, nas várias edições. Mas este não é um ano eleitoral normal. Uma comparação desse género seria um exercício vazio, numa corrida onde um candidato – a nossa escolha, Hillary Clinton – tem um currículo e uma série de ideias pragmáticas, e o outro, Donald Trump, nada revela de concreto sobre si próprio ou sobre os seus planos, enquanto promete a lua e oferece as estrelas a prestações”, escreveu o The New York Times.

A candidata democrata à presidência dos Estados Unidos, Hillary Clinton, está com uma pneumonia e ficou “muito quente e desidratada” na cerimónia do 11 de Setembro, que ocorreu no domingo em Nova Iorque, mas está a “recuperar bem”.

Hillary Clinton foi examinada em sua casa, em Chappaqua, Nova Iorque, pela sua médica, Lisa Bardack, depois de ter deixado a cerimónia em memória do 11 de Setembro, no ‘Ground Zero’, por se ter sentido mal.illary Clinton tem uma pneumonia



 

Trump começou bem, mas Hillary controlou o debate

Devia durar uma hora e meia, mas durou um pouco mais. O primeiro debate entre Hillary Clinton e Donald Trump na Universidade Hofstra, em Nova Iorque, começou com o candidato republicano ao ataque na primeira meia hora, mas a ex-primeira dama aproveitou os seus comentários mais pessoais - sobre o seu temperamento e "resistência" - para contra-atacar.

No final, a maioria dos analistas garantia que a candidata democrata às presidenciais de 8 de novembro nos EUA venceu. É o caso de Jon Raltson, do Politico, que escreveu no Twitter:

[twitter:780599025443700736]

Também Justin Wolfers, analista do New York Times, escreveu na mesma rede social:

[twitter:780599172781248512]

Ainda no Politico, Shane Goldmacher, escreveu que Trump "mordeu o isco" lançado por Hillary. Já o Wall Street Journal destacava no final do debate o facto de Trump ter estado "na defensiva" durante o frente-a-frente. O mesmo jornal sublinhava a calma que Hillary revelou em palco, bem como a sua "preparação".

Depois de uma primeira pergunta sobre emprego e outra sobre segurança e divisões raciais, o moderador Lester Holt questionou os candidatos sobre ciber-guerra. Hillary Clinton apressou-se a afirmar ter ficado "em choque" quando ouviu Donald Trump apelar à Rússia para piratear os americanos.

O candidato republicano sugeriu que hackers russos deviam encontrar e divulgar os emails que a ex-secretária de Estado não divulgou do tempo em que usou um servidor privado apesar de dirigir o Departamento de Estado. Trump defendeu-se recordando que recebeu o apoio de 200 almirantes e generais.

Apesar de questionado sobre terrorismo nacional, Trump volta aos ISIS (ou Estado Islâmico) para garantir que os EUA não deviam ter "ficado com o petróleo [do Iraque]. O ISIS não teria aparecido".

Quanto à guerra do Iraque, o milionário republicano insiste que não apoiou a intervenção americana em 2003. E quando até o moderador insiste que há provas de que o fez, ele não cede.

Garantindo ter o temperamento certo para ser presidente, Trump é gozado por Hillary, que aproveita ainda para sublinhar que "um homem que pode ser provocado por um tweet não pode ter o dedo em cima do botão" que decide o uso de armas nucleares.

E quando Trump garantiu que ela não tem a "resistência para ser presidente", Hillary Clinton sorriu e respondeu que quando o rival tiver viajado para centenas de países, negociado acordos de paz e libertações de reféns, então sim "poderá vir falar-me de resistência".

Trump respondeu: "Hillary tem experiência. Mas é má experiência".

Holt questionou Hillary Clinton e Donald Trump sobre as mortes de jovens negros por agentes da polícia brancos e sobre a divisão racial que se sente nos Estados Unidos.

A democrata Hillary sublinhou que muitas vezes a raça "é demasiado determinante". E garantiu que é preciso "restabelecer a confiança entre as comunidades e a polícia".

Para o republicano Trump, o problema na resposta de Hillary é que "não falou em lei e ordem. E nós precisamos de lei e ordem no nosso país". O milionário garantiu ainda que "os afro-americanos e os hispânicos vivem no inferno porque é muito perigoso. Se descer a rua, pode ser morto".

As respostas de Trump têm sido marcadas pelo facto de o candidato republicano estar a sorver, deixando a Internet a questionar se estará constipado.

Hillary lamentou que o adversário "pinte uma imagem tão negativa da comunidade negra no nosso país". Uma afirmação que fez Trump suspirar alto e fazer caretas. Mas a ex-primeira dama prosseguiu, criticando o Parar e Revistar. Uma política aplicada pelo mayor Rudy Giuliani em Nova Iorque em finais dos anos 90, que Trump garante ser responsável pelo recuo dos crimes da cidade e que quer ver aplicada a todo o país.

Após uma semana de protestos em Charlotte, na Carolina do Norte, na sequência da morte de um homem alegadamente desarmado por um polícia, Trump explicou que sabe como o país é perigoso porque "Estive por todo o lado. A senadora decidiu ficar em casa, ok!" Um ataque para o qual Hillary já tinha a resposta pronta: "Acho que Donald acabou de me criticar por me preparar para este debate. E sim, preparei. E sabem para o que mais me preparei? Para ser presidente. E isso é bom!"

Atacada pelo republicano Donald Trump tanto pela fuga das empresas dos Estados Unidos como pelos ataques do Estado Islâmico, Hillary Clinton lançou: "Sinto que no final desta noite serei culpada de tudo". Ao que o candidato republicano às presidenciais de 8 de novembro nos EUA respondeu: "Porque não?.

Questionado pelo moderador Lester Holt sobre quando vai revelar a sua declaração de impostos, Trump garantiu: "Divulgo os meus impostos quando ela divulgar os 33 mil emails", numa referência ao facto de a ex-secretária de Estado ter usado o seu email privado quando dirigia o Departamento de Estado (entre 2009 e 2013). E afirmou que "chegou a hora de este país ter alguém à frente que percebe de dinheiro".

Para Hillary, o adversário não revela a declaração de impostos porque não quer os americanos saibam que se calhar não é assim tão rico, ou assim tão caridoso. E rematou: "Ele está a esconder alguma coisa!"

Quanto ao uso do email privado, Hillary Clinton admitiu que foi "um erro". Um afirmação rebatida pelo adversário: "Não foi um erro. Foi de propósito".

O primeiro debate entre os candidatos à Casa Branca começou com uma pergunta sobre emprego. Ao que Trump respondeu:"Os nossos empregos estão a fugir do país". O candidato republicano teve de esperar que a adversária democrata falasse durante dois minutos, uma vez que a sorte ditou que fosse Hillary Clinton a começar.

© REUTERS/Adrees Latif Trump e Hillary em palco

Insistindo em chamar o rival pelo primeiro nome, Hillary recordou que Trump tem "muita sorte na vida" e recordou como o milionário começou no negócio do imobiliário com um empréstimo de um milhão do pai. Trump, de gravata azul, respondeu que recebeu uma "pequena quantia", antes de voltar a falar no México.

Enquanto Trump insiste que Hillary não fez nada para resolver o problema do emprego e "faz isto há 30 anos", a ex-secretária de Estado recordou que para o rival republicano, as alterações climáticas "são um embuste criado pelos chineses". "Não é verdade. Não disse isso", afirmou Trump, mas um tweet na sua conta confirma que disse.

A ex-primeira dama, de fato vermelho, exigiu igualdade de salários para homens e mulheres. Mas recordou também que a América assistiu a seis anos de crescimento do emprego.

A ex-primeira dama chegou à universidade Hofstra acompanhada pelo marido, o ex-presidente Bill Clinton. Este já se encontra sentado na primeira fila, depois de ter cumprimentado a mulher de Donald Trump, Melania, e os filhos do candidato republicano. Ao lado de Bill está a filha, Chelsea. No Twitter, o ex-presidente desejou que os espectadores fiquem a conhecer hoje a mulher que ele conhece há 40 anos.

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O debate vai ser dividido em três grandes temas: O rumo da Améica, alcançar a prosperidade e garantir a segurança da América. As regras definem que a assistência não pode aplaudir, vaiar ou fazer qualquer barulho.

Ainda antes do início do debate, Hillary usou o Twitter para se dirigir aos apoiantes, publicando um vídeo do jantar dos Correspondentes da Casa Branca de 2011 no qual o presidente Barack Obama goza com Trump. A ex-primeira dama passou a tarde num hotel e spa vizinho da universidade, onde esteve a preparar o debate com a sua equipa, incluindo Bill Clinton.

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À chegada à Universidade de Hosfra, em Hempstead, Nova Iorque, onde decorre o primeiro debate entre Donald Trump e Hillary Clinton, o candidato republicano levantou o polegar para os jornalistas. O milionário Trump chegou sem gravata, segundo um vídeo da AP.

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No estúdio da CNN, o candidato a vice republicano, Mike Pence, admitiu não saber o que esperar de Trump esta noite. "Quem sabe? Vamos ver para onde isto vai", afirmou o governador do Indiana.

As últimas sondagens nacionais revelam um quase empate entre os dois candidatos à sucessão de Barack Obama. O último estudo da CNN com a média das sondagens dá Hillary apenas dois pontos à frente de Trump, com 44% das intenções de voto, face a 42% para o rival republicano.

O frente a frente, para as televisões, terá início às 2:00 (hora de Lisboa) e uma duração de 90 minutos.

Prevê-se que a emissão televisiva tenha uma audiência de cerca de 100 milhões de pessoas. Em Portugal, pode ser vista na SIC Notícias. E acompanhada aqui, no site do DN.

Os debates presidenciais pela televisão têm uma enorme tradição nos Estados Unidos, desde o primeiro frente a frente entre John F. Kennedy e Richard Nixon, a 26 de setembro de 1960. Muitos analistas políticos apontam este como o momento em que JFK - mais jovem, mais à vontade e com um fato escuro que o destacava no preto e branco do pequeno ecrã - conquistou a corrida à Casa Branca.

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quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Práticas Educativas e pensamento operatório de Jean Drevillon

PRÁTICAS EDUCATIVAS, E PENSAMENTO OPERATÓRIO

Se há questões controversas em psicopedagogia, a influência das práticas educativas sobre o desenvolvimento dos alunos é uma delas.

O trabalho de investigação apresentado nesta obra incide precisamente sobre os efeitos dos procedimentos pedagógicos utilizados em meio escolar sobre a evolução do pensamento operatório, no sentido piagetiano do termo. No âmbito de uma psicologia ecológica, é atribuído u amplo lugar à exposição das técnicas de estudo das situações escolares.

A investigação de Jean Drevillon permite igualmente evidenciar a grande diversidade de vias de aprendizagem nos alunos de idade compreendidas entre 9 e 13 anos. Parece impor-se uma psicológica genética diferencial. Fica demonstrado que há práticas educativas, principalmente as de tipo activo e flexível, modulam o desenvolvimento operatório de modo especial.

A pedagogia da descoberta agiria melhor fornecendo ingredientes intelectuais e activando sistemas funcionais. Mas a estruturação das operações mentais, seguindo pistas muito variadas, parece permanecer apanágio do sujeito em situação de aprendizagem. Continua em aberto a questão de saber em que medida é a escola susceptivel de ter em conta a diferença para ser verdadeiramente a fonte em que se alimentam as múltiplas formas de inteligência.
Jean Drévillon

  

7 dicas para escrever histórias infantis que encantam

Texto da escritora convidada Ronize Aline

A escritora Ruth Rocha já comentou em várias entrevistas o quanto autores de livros para crianças costumam ser subestimados. Muitos se referem a eles como os que “escrevem aquelas historinhas”, menosprezando o valor e o trabalho envolvido na criação de textos pensados especificamente para o público infantil.

Talvez por acreditarem que criança aceita qualquer coisa, muitos acham que escrever para elas é tarefa fácil. No entanto, crianças são extremamente exigentes e críticas. Abaixo, algumas dicas para você escrever histórias infantis que encantam.

1. Leia livros infantis

Parece óbvio, mas é surpreendente o número de pessoas que dizem ter passado da idade de ler livros infantis e insistem em querer escrever histórias para crianças. Como escrever um gênero se não se está familiarizado com ele? Como reconhecer o que atrai, o que interessa, o que motiva aquele leitor se não se conhece suas referências? Se você pretende se aventurar na escrita para crianças o primeiro passo, sem dúvida, é ler muitos livros infantis.

2. Identifique seu tipo de leitor

Você pode escolher escrever para crianças em fase de alfabetização ou para crianças já alfabetizadas. O formato que você vai dar para sua narrativa depende dessa escolha. Se sua opção é escrever para o primeiro grupo, a história deve ser pequena, ter estrutura simples, usar frases curtas e muitas ilustrações (que ocuparão a maior parte do livro). Se você quer escrever para crianças alfabetizadas, você pode equilibrar a quantidade de ilustrações e texto, pode usar frases mais longas, enredos mais elaborados, além de um número maior de personagens.

3. Não menospreze a criança

Explicar demais o que não precisa ser explicado é um erro comum de muitos livros infantis. Um outro erro é subestimar a capacidade dos pequenos leitores de aprender novas palavras. Há quem limite o vocabulário do texto por acreditar que está tornando a leitura mais fácil. Esses autores se esquecem que o volume de palavras aprendidas durante os primeiros anos de vida é maior do que nos anos posteriores.

4. Faça da criança o personagem principal

Crianças gostam de histórias em que elas possam se identificar com os personagens, em especial com heróis que vivem grandes aventuras. Se esses heróis forem crianças, ainda melhor. Os pequenos leitores não querem ser apenas coadjuvantes em uma história de adultos. Eles querem sentir que são os protagonistas porque isso reforça a fantasia de que se o personagem é capaz de fazer alguma coisa, eles também são.

5. Use personagens secundários

Fazer parte de um grupo é muito importante para as crianças. Compartilhar suas aventuras com amigos torna tudo mais excitante. Além disso, isso reforça a ideia de companheirismo, de que é muito mais fácil enfrentar desafios acompanhado de outras pessoas. Então não deixe seu protagonista sozinho na história. Dê para ele amigos em quem ele possa confiar e que sirvam como contraponto narrativo, mostrando crianças com características e papéis diferentes, como ela pode observar na vida real.

6. Inclua conflitos e obstáculos

Há quem acredite que histórias infantis não devem apresentar conflitos. Mas crianças são ávidas por aventuras e obstáculos porque elas adoram testar seus limites. Histórias sem conflito são muito superficiais e pouco envolventes. Inclua no texto situações de desafios para o protagonista da história que sejam coerentes com a idade do leitor. É uma forma de estimular a criança a pensar em formas de superar obstáculos e resolver problemas.

7. Não dê lição de moral

Literatura não é lugar para didatismos. É claro que, inevitavelmente, histórias defendem certos valores e visões de mundo do autor, mas passar uma lição de moral não deve ser o objetivo principal do texto. Essa é a função dos livros didáticos e paradidáticos. Se concentre em divertir as crianças que decidirem ler seus livros. Dessa forma, você ajuda elas a associar a leitura com uma atividade prazeiroza, e contribui para criar pequenos grandes leitores.



Sobre a autora: Ronize Aline é escritora, tradutora, jornalista, crítica literária e professora universitária. Autora dos livros infantis “O Dono da Lua” e “Anete, nariz de chiclete”, participou com dois contos da coletânea Nouvelles du Brésil, lançada em 2013 na França, pela Éditions Reflets d’ailleurs. Trabalha com produção de textos para plataformas diversas, copidesque, leitura crítica e coaching literário, além de produzir críticas literárias para o jornal O Globo e ministrar cursos e palestras. É criadora do blog da Ronize Aline, especializado em criação literária.

Literatura intanfil angolana procura espaço próprio

Escritores querem fomentar a leitura lúdica, e não apenas didáctica, entre as crianças
30 Jan 2011 - “Soba Kangueia e a Palavra”, “Historias e Historietas, “ “Sonhos Roubados a um Carrossel”, “O Feijãozinho Vermelho”, e a “Canção Mágica” são algumas obras literárias infantis de autores angolanos que despertam alguma curiosidade nas crianças.


Mas a realidade é que muitas ficam somente pela curiosidade. Para quem pensa que é por falta de dinheiro, John Bella um dos poucos escritores angolanos que aposta na literatura infantil, prova o contrário.

O jovem que descobriu a sua paixão pela literatura aos 12 anos, crê que existe é pouco interesse por partes de alguns pais e restante sociedade."Nós temos uma comunidade estudantil muito grande", diz salientando que é preciso levar os livros a mais crianças e lamentandop que se façam edições de apenas mil livros.

Luísa Charumbo, Teresa da Apresentação, Sebastiana Martins, Celma Paulo e Mariana Araújo são crianças dos 9 aos 11 anos de idade nunca ganharam livros infantis uma vez que não têm poder de compra. Os únicos livros que lêem são didácticos. E contam à VOA que nunca compraram livros de contos, nem os pediram aos pais. Para elas, os livros são uma obrigação e não um prazer, como podem ouvir clicando na barra acima ou logo a seguir a este texto.

Por essa razão John Bella, pensa ser necessário que as instituições escolares promovam actividades extra escolares que envolvam lançamento de obras literárias infantis.Há escolas onde as actividades extra-curriculares não existem, apesar de serem obrigatórias, o que nega à criança o conhecimento de outros mundos.

Das poucas escolas públicas que dão a oportunidade as crianças de lerem livros fora das disciplinas curriculares está a escola Nossa Senhora do Bom Conselho, na Praia do Bispo, Marcelina Charumbo de 11 anos de idade disse que foi graças à sua escola que hoje conhece algumas obras literárias infantis.

O que essas crianças não sabem é que entrar para o seu mundo de fantasia não é um exercício fácil. O autor de nove obras literárias, na sua maioria infantis, conta-nos, que escrever para os mais novos é uma tarefa que requer muita atenção e criatividade

“Estes são cão e gato” é a mais recente obra de John Bella, tem 32 páginas. Nesta obra autor explica aos mais pequenos o que leva o cão a perseguir o gato. "Devemos ser muito responsáveis no que estamos a escrever, porque estamos a lidar com um público muito sensível. A palavra tem que se muito bem estudada. Temos que saber brincar com a criança", diz

John Bella, um dos 10 escritores angolanos que aposta na literatura infantil, volta a afirmar que a falta de apoios e iniciativas por parte de algumas instituições escolares e governamentais pode condicionar a publicação de obras infantis e em particular no interior do país.

Como escrever um primeiro rascunho a partir de uma ideia

By Diego Schutt on 20/08/2016 in dicasescreverstorytelling

O texto abaixo, minha tradução livre de uma TED Talk do escritor John Dufresne, descreve em detalhes como jardinar uma ideia para desenvolver o primeiro rascunho de uma história. Dividi o texto nos 7 grandes tópicos que ele aborda durante a palestra.

IDEIA

Quero falar sobre como escrever uma história. O primeiro mandamento para escrever ficção é sente sua bunda na cadeira. Alguns de nós precisam de calças de velcro. Pensar sobre escrever não é escrever. Uma história não existe antes do ato da escrita.
Você está na sua cadeira, mas seu protagonista estará no seu limite. Um homem desesperado tomando atitudes desesperadas. Somente conflito é interessante. Tudo o que você não quer que aconteça com você, sua família e seus amigos deve acontecer com seus personagens. Você ama seu protagonista, mas você deve colocar obstáculos em seu caminho.
Escrever uma história é escolher o caminho mais difícil. Você pega sua caneta e começa na beira de um precipício. Você tenta expressar o inexpressável e isso o deixa nervoso. Você sabe que toda história é um fracasso. Você também sabe que o escritor não se deixa paralisar ou afetar por fracassos, e isso significa que você é corajoso. Você começa sem saber onde vai parar, mas você confia na sua imaginação e processo criativo para levá-lo até lá.
Escreva sobre o que você não entende.
O que você não sabe é mais importante do que o que você sabe porque é isso que envolve sua imaginação. Você segue buscando por significado, mas não por respostas. O principal não é responder, mas questionar. Não é solucionar, mas buscar. Não é pregar, mas explorar. E você também sabe que a vida é mais estranha que a ficção porque ficção precisa fazer sentido.
Não importa o quão brilhante é sua prosa, o quão fascinante é seu protagonista. Se você não tem um enredo, uma estrutura narrativa, se o protagonista não está em busca de algo importante, o leitor vai abandonar sua história. O enredo de toda história é o seguinte: você tem um personagem principal que quer algo intensamente e vai em busca disso, apesar da resistência que ele encontra. No final, ele ganha ou perde. Se você usar essa definição como referência, seu enredo se apresentará para você. Isso vai levar você naturalmente a considerar o tema, o cenário, ponto de vista e outros modos de narração da história.

CONTEXTO

Digamos que você comece com um casal, cujo problema no início da história é a morte da filha, e você deseja observar se o casamento pode sobreviver a essa perda agonizante. A filha do casal, Hope, faleceu. O casal está sozinho em casa, depois do funeral, do enterro e da recepção angustiante – mas obrigatória – para a família e os amigos. Alice está sentada em um canto do sofá, uma xícara de chá em uma das mãos, lenços na outra mão. Grady está sentado na cadeira de couro, os cotovelos nos joelhos, olhando para suas mãos entrelaçadas. Grady acredita que se sua filha Hope o tivesse escutado, ela ainda estaria viva, e ele quer que Alice admita a culpa dela no que aconteceu. E você se pergunta, o que aconteceu?
Quando você escreve uma história, você tem duas opções: você pode mostrar ou contar. Você escreve cenas ou sumário narrativo. Cenas são vívidas e íntimas. Sumários narrativos são distantes e eficientes. Cenas é onde o escritor engaja a imaginação e as emoções do leitor. Tudo que é importante na sua história deve acontecer em uma cena. E esse ressentimento obscuro de Grady é certamente um desses momentos importantes. Então você começa o mais próximo possível do momento em que Grady vai falar sobre a perda da filha.
Se essa é uma história sobre um casamento em perigo, você não precisa mostrar os anos de prosperidade e felicidade do casal. Mas antes que você possa escrever essa primeira cena, você precisa prestar atenção ao contexto que você está criando, porque quando as pessoas falam, elas também agem, e você precisa saber o potencial do cenário onde os personagens se encontram. Cada detalhe dessa sala informa sobre as pessoas que moram naquela casa.
Escrever uma história é fazer arqueologia.
Nem todos os detalhes que você imaginar sobre a história vão aparecer na página, mas o mais importante é que tudo o que você descobrir sobre seu universo de ficção lhe permitirá conhecer mais profundamente os personagens. Os detalhes que vão aparecer na página são apenas os mais vívidos e significativos.

PERSONAGENS

Agora que você conhece seus personagens um pouco melhor, você se sente mais confiante para voltar para sua cena. A gravata azul de Grady está enfiada no bolso da sua jaqueta. Você percebe que ele tem uma cicatriz no pulso esquerdo e você sabe que toda cicatriz conta uma história. Mas será que a história dessa cicatriz é relevante para a sua história? Você investiga se quiser descobrir. Ele tem um “milagro” fixado em sua lapela, um pequeno broche religioso no formato de um olho, usado por suas propriedades de cura. Ele comprou o broche de uma senhora idosa, em frente a uma igreja em New Mexico. Você decide que Grady tem glaucoma. Quando ele disse para a senhora idosa que ele também gostaria de um milagro para sua filha, ela pergunta “O que há de errado com ela?” E ele diz “Tudo”.
Se você não tivesse parado para observar com mais cuidado o personagem Grady e conhecê-lo melhor, talvez você não teria pensado sobre as temáticas visão, o visível e o invisível, e cura. E você já está escrevendo sobre a morte, sobre casamento, sobre luto, sobre perda, e você nem sequer começou.
Quando Grady diz que tudo estava errado com sua filha, o que ele quis dizer com isso?
Você decide descobrir. Então você escreve sobre Hope e descobre que ela era viciada em drogas, que ela roubava seus pais para manter o vício e morreu sozinha em um terreno baldio. Você volta até a sala onde o casal se encontra. Quando a malha turquesa cai dos ombros de Alice, você percebe uma tatuagem de um coração em chamas no seu braço esquerdo. Na mesa de centro, há um emblema da perda do casal. Uma foto em um porta retrato de Hope quando bebê, deitada em uma canga de praia.
Quando você olha atrás de Alice, pode ver as escadas que levam para o quarto de Hope. Em breve você estará lá, tentando entender o que você pode sobre a vida secreta de Hope. Embaixo da mesa de centro, há uma corrente de ouro. Você, escritor, a vê, mas o casal não vê. É um colar. Você se pergunta que papel essa jóia vai ter na história.

CONFLITO 

Alice coloca sua xícara de chá na mesa, sobre uma edição da revista Food & Wine. Há um gato preto deitado na estante de livros. Próximo à janela, há um vaso de lírios, o que indica a você que é época de páscoa. Você entende a ironia. Você sabe que poderia usar a época do ano para dar o tom da sua história e agora você tem as temáticas de renovação e renascimento para considerar.
Grady relembra Alice que ele foi contra expulsar Hope para fora de casa quando ela teve sua última recaída. “Você queria que ela chegasse no fundo do poço”, ele diz, “e ela chegou”. Alice sente como se tivesse tomado um soco na cara. O que ela diz? O que ela faz? Você a observa com atenção e espera com uma caneta na mão. Ela joga a xícara de chá no chão. O gato corre para a cozinha. Ela chama Grady de monstro, chora até perder o fôlego. Escreva tudo isso.
Grady sabe que deveria se aproximar dela, mas ele está paralisado por raiva e culpa. Quando Alice vai até a porta, ele a segue e tenta acalmá-la. Ela o empurra, corre para a frente da casa e grita desesperada. Os vizinhos espiam pelas frestas das janelas. Ela vai embora. Sua história está se desenvolvendo.
A história de quem você vai contar?
A história de Grady ou de Alice? Escolha um personagem principal. Sua decisão depende dostemas que você deseja explorar, no personagem que lhe parece mais interessante, talvez aquele que tenha sido mais impactado pelo conflito.
Digamos que você decide que vai contar a história de Grady. O que ele deseja é trazer Alice de volta para casa com a intenção de curar a ferida que ele abriu, para consertar os danos que o vício e a morte de Hope trouxeram para o casamento. Ele quer redenção. O desejo dele de trazer Alice de volta precisa ser significativo. Motivação é o que provoca ação e ação é o motor das histórias. Você não pode escrever sobre um protagonista passivo.
Grady ama Alice. Ele não pode viver sem ela. Ele quer o perdão da esposa, quer ser absolvido, ele quer redenção. Agora você sabe que ele tem motivação suficiente para tentar salvar seu casamento e toda vez que ele tentar fazer isso, você escreve uma cena. Sabendo disso, você pode escrever todas as cenas principais até o clímax da história.
Quem vai contar a história? Grady pode contá-la ou um narrador na terceira pessoa pode contá-la, nos dando acesso aos pensamentos e emoções do personagem, e talvez também aos de Alice. Todos os narradores na primeira pessoa não são confiáveis. Eles têm interesses pessoais em alcançar certos resultados. Se você quer que a confiabilidade de Grady seja parte do significado da história, você deixa que ele narre. Mas se você quer que focar mais claramente nos esforços cautelosos dele para salvar o casamento, você deixa que um narrador na terceira pessoa conte a história.

ENREDO

Você tem um protagonista, você sabe o que ele deseja e sua motivação para isso. Agora, ele precisa enfrentar uma série de obstáculos. Você não pode escrever uma história sobre um personagem passivo. Então, você dá um salto no tempo naquele mesmo dia do enterro de Hope, à noite, quando Grady vai até o condomínio onde mora a irmã de Alice e pede que ela volte para casa. Ela diz “Aquela casa vai sempre me lembrar de Hope. Não posso mais viver lá”. Ele diz “Foi você quem a expulsou de casa quando ela mais precisava de nós” e a discussão fica mais intensa. Alice não vai voltar para casa. Grady foi até lá para trazer ela de volta, mas acabou afastando ela ainda mais. Mas ele não pode parar de tentar ou não temos uma história.
Conflito traz embutida a ideia de esforço prolongado e sofrimento emocional.
Sua próxima cena. Alice concorda em almoçar com Grady. Ambos voltaram a trabalhar. Ele é pedagogo em uma escola, trabalha com adolescentes problemáticos e sempre acreditou, secretamente, que os pais são culpados por permitirem que seus filhos se tornem viciados. E agora você sabe a origem da culpa desse personagem e seu senso de fracasso como pai.
No restaurante, Alice diz que alugou um apartamento e que pretende se mudar em breve. Grady está cético, se perguntando porque ela não compartilhou isso com ele antes de tomar tal decisão. Mais tarde, quando ela vai até a casa pegar suas roupas e alguns objetos pessoais, Grady se mostra prestativo e compreensivo porque ele quer convencê-la a ficar. Mas Alice aparece acompanhada de seu amigo Austin, da estação de rádio onde ela trabalha, e ela faz as malas em vinte minutos. Grady não consegue ficar nem sequer por um breve momento a sós com Alice.
Até agora, o único obstáculo para eles restabelecerem o casamento era Alice, e você está se perguntando se existem outros impedimentos. Um dia, Grady espalha as fotos do álbum de família na mesa da cozinha. Você e ele estão tentando entender o que fez com que sua linda filha terminasse daquela forma. O coração de Grady está partido e sua determinação está enfraquecendo. Será que ele vai ser derrotado por seu próprio desespero? Não, ele não vai desistir. Grady liga para Alice. Ele deixa uma mensagem em seu correio de voz, pedindo que ela vá com ele até um psicólogo de casais. Agora você sabe a próxima cena que precisa escrever.
Enquanto Grady deixa a mensagem, ele se pergunta se Alice está escutando. Você acredita que ela está. Ele se pergunta se ela está sozinha. Você acredita que ela não está. O enredo fica mais complexo. Na terapia, Grady diz que deseja salvar seu casamento, mas quando o psicólogo pergunta para Alice o que ela deseja, ela diz o divórcio, uma nova vida. Ela diz a Grady que o ama, mas que ela não pode mais viver com ele.

RESOLUÇÃO

O conflito em andamento precisa ser resolvido. Grady talvez não alcance o que deseja e Austin acabe indo morar com Alice. Faça um esforço para conhecer Austin melhor. Ele é um personagem importante. Ou talvez Grady alcance seu objetivo e Alice volte para casa. Depois de vinte e três anos de casamento, ela decide que deve pelo menos tentar.
E você termina sua história com uma cena.
Eis uma possiblidade. Alice está no sofá, próxima de um abajur, lendo um livro, mas ela está na mesma página já faz uma hora. Quando Grady olha para ela, enxerga uma auréola ao redor de sua cabeça. Ele tem glaucoma, não se esqueça. Ele pensa “Alice voltou, finalmente”, mas ele percebe que a foto da filha não está sobre a mesa de centro da sala. A esposa está segurando o porta retrato por trás do livro, se martirizando com a imagem de sua perda.
Naquele momento, Grady entende que o tempo vai curar certas feridas e, eventualmente, ele vai se acostumar com a separação da esposa, mas em relação a uma ferida, o tempo não vai fazer nenhuma diferença. Ele nunca vai se recuperar da perda irreparável de sua filha. Trazer Alice para casa provou a futilidade da decisão do casal de seguir vivendo juntos.

REVISÃO

Sua história está dura e sem vida, mas você a torna melhor durante as revisões, porque a verdade é que histórias não são escritas, elas são reescritas. Você precisa de algo para reescrever, um esboço da sua ideia. Esperar mais de um primeiro rascunho é não compreender o processo de criação. Mesmo que você escreva um primeiro esboço que o deixe satisfeito, se desafie a torná-lo ainda melhor.
O enredo o guiou a desenvolver uma sequência causal de eventos. Você tem um começo, um meio e um final. Agora você pode voltar e acrescentar sumários narrativos para conectar uma parte da história à outra, melhorar as cenas que já escreveu, escrever as cenas que você descobriu no caminho, como a tarde em frente à igreja em New México, a noite em que Grady descobriu o colar que ele deu para a filha no seu aniversário de dezesseis anos, e talvez você deveria explorar na história aquela tatuagem de coração em chamas no braço de Alice. Mas explorar como?
Você vai descobrir enquanto escreve.